O bom filho à casa torna
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A minha história na blogosfera começou em Março de 2003, com um blogue chamado «O muro das lamentações».
«O muro das lamentações» estava alojado aqui mesmo, nos Blogues do Sapo [visitar], e começou por ser o repositório dalgumas impressões pessoais sobre diversos temas — coisas muito simples, quase como desabafos —, mas foi evoluindo: a partir de 2006, passou também a ser uma espécie de diário pessoal, onde verti certos pensamentos, ideias, frases… Progressivamente, fui-lhe acrescentando música, fotografias, etc. e tornou-se um blogue eclético.
Em 2007, criei um fórum, a «Ágora Lusitana», para onde transferi a parte séria — chamemos-lhe assim — do «Muro das Lamentações», restando neste a parte mais pessoal e informal. A ideia, nessa altura, era fazer da «Ágora» um ponto de debate político e deixar no «Muro» a súmula da minha opinião, incluindo as contribuições para a sua construção recebidas nesses debates. A prática não resultou como idealizado e, quer o blogue, quer o fórum, acabaram por cair um pouco no esquecimento. Ainda assim, «O muro das lamentações» manteve-se activo até Fevereiro de 2010.
Durante algum tempo, tive um outro blogue, o «Blogue do Domingo», que assumiu a função inicial do «Muro» como repositório de opiniões a respeito de certos tópicos que suscitaram o meu interesse; foi, contudo, uma curta experiência de poucos meses.
Entretanto, em Agosto de 2012, abandonei os Blogues do Sapo e criei a «Rua da Constituição» no Wordpress [visitar]. Já não me lembro do motivo que me levou a mudar, mas o facto é que mudei e aí reproduzi alguns dos textos originalmente publicados tanto no «Muro das Lamentações» como no «Blogue do Domingo», tendo publicado versões expandidas ou actualizadas doutros.
A «Rua da Constituição» foi crescendo, tendo passado a incluir outros autores, inclusivamente estrangeiros, e chegou, a dado ponto, a contar com a colaboração, sempre em regime de voluntariado, de quase duas dezenas de colunistas e editores e 31 colunas diferentes. Isto colocou enorme pressão sobre um projecto que era mais um passatempo do que uma profissão e tornou-se insustentável, do ponto de vista do tempo necessário para continuar a produzir conteúdo de qualidade. Inevitavelmente, alguns dos colaboradores foram-se afastando e eu mesmo, nos tempos finais, acabei por lhe não dar a atenção devida. Até que decidi dar a aventura na Rua da Constituição por terminada.
Mas não desisti da blogosfera! Sobretudo numa altura em que o mundo vive numa vertigem temporal, em que tudo o que tenha mais do que 150 caracteres é TLDR (para quem não saiba, TLDR significa «too long, didn't read») [ver fonte], num mundo onde uma imagem já só vale cem palavras, porque ninguém paciência para chegar às mil, num mundo onde um vídeo pode ter, no máximo, quatro partes de quinze segundos cada uma [ver fonte], num mundo onde apenas o imediato sobrevive o tempo necessário a ser substituído pelo imediato seguinte, onde uma notícia dura 24 horas, num mundo destes, é cada vez mais importante ter tempo para escrever palavras compridas, em frases compridas, agrupadas em parágrafos compridos. É cada vez mais importante ter tempo para pensar uma ideia do início até ao fim. É cada vez mais importante nos não perdermos nos chavões que levam extremistas ao poder. É cada vez mais importante não reduzirmos os argumentos a memes.
Além disso, num mundo cada vez mais murado, em que todas as notícias, todo o entretenimento e toda a informação estão fechados dentro de jardins acessíveis apenas aos membros, que têm de pagar com a sua privacidade por esse acesso, os blogues são o último bastião da liberdade de comunicação universal, sem discriminação, e, por extensão, da liberdade de expressão: qualquer pessoa com uma ligação à internet pode ter um blogue, ler um blogue e criar e ouvir um podcast ou um canal no Youtube [visitar].
Ler ou ouvir… Numa altura em que todo o bicho-careta vomita alarvidades no seu canal de Youtube [visitar], ou se acha videógrafo no Instagram [visitar], ou partilha umas patacoadas de duvidoso interesse no Facebook [visitar], eu, que até nem sou totalmente desarticulado no discurso, nem as minhas ideias são totalmente desprovidas de sentido, não posso verdadeiramente fazer pior figura do que certos figurões, se mandar uns bitaites em vídeo na internet. Portanto, cada intervenção minha será dupla: em vídeo e por escrito. Mais não seja, porque só por escrito se podem fazer hiperligações. Quer dizer, o Youtube [visitar] permite sobrepor ligações ao vídeo, mas, francamente, é uma coisa que acho esteticamente obtusa e que me deixa incomodado, sempre que acontece num vídeo que estou a ver. Portanto, quem quiser conhecer os tópicos relacionados com o que vou dizendo, as alusões que faço, as minhas referências, terá de continuar a ler-me. Além disso, a palavra escrita continua a ser importantíssima.
Mas, para quem não tiver tempo para isso e preferir ouvir, ou para quem for simplesmente preguiçoso, porque também é digno de respeito, poderá sempre ouvir-me dizer o que escrevi, embora não vá ser uma coisa muito elaborada: um telemóvel para filmar, a parede por cenário, um software gratuito [ver qual] para editar e está feito! Nem eu quero que seja mais do que isso: para mim, o conteúdo continua a ser mais importante do que a forma. Se houver, pelo menos, uma pessoa que me veja e oiça, ou me leia, e chegue ao fim do vídeo ou feche a janela do navegador com o sentimento de que as suas ideias já não são exactamente iguais às que tinha, antes da sua passagem por aqui, então já valeu a pena!
Portanto, fazia sentido começar de novo, sem o peso do que foi, mas já não é, a «Rua da Constituição» e sem voltar a ser só um «Muro das lamentações». Mas, porque o bom filho à casa torna, fica este blogue de novo alojado nos Blogues do Sapo [visitar] (e é só por isso que o nome do novo blogue é esse: «Bom filho»; não vale a pena procurar outros significados psicopatológicos ocultos sobre como a minha relação com a minha mãe me levou a escolher este título).
Uma tradição, aviso desde já, é para manter: à semelhança dos seus antecessores, o «Bom filho» não tem preocupações de qualquer índole, para além de honestidade intelectual e sinceridade emocional, mesmo que esse desprendimento possa implicar alguma falta de correcção política. Comentários conducentes a uma partilha profícua de ideias e ideais são bem-vindos. Outro género de comentários, em princípio, é dispensável. E quem não gostar tem sempre a opção de não ler o texto nem reproduzir o vídeo.