41.º episódio de «Perspectivas em saúde», na Sinal TV [visitar]
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É curioso observar que as perguntas que mais recorrentemente me são colocadas têm que ver com escolas, o seu encerramento durante o estado de emergência e a sua reabertura no desconfinamento; e não é só a mim que essa questão é colocada: o assunto gera manifestos, cartas abertas [ver notícia], artigos de opinião, debates!
O mais curioso é que o assunto é relativamente simples e resumi-o já em duas outras ocasiões [visitar: 1, 2]:
As crianças em idade escolar não são um grupo de risco. Os adolescentes já têm idade para saber usar máscara e manter o distanciamento social — além de que também não são um grupo de risco. Os professores e restante pessoal também não são grupo de risco, regra geral, embora possam sê-lo, em determinadas circunstâncias (isto é, se forem doentes crónicos, ou forem mais velhos), mas isso são situações que têm de ser tratadas individualmente. Ou seja, as escolas não são ambientes, por si só, de risco mais elevado do que qualquer outro local de trabalho.
Por outro lado, encerrar escolas tem múltiplas consequências nocivas. A mais básica de todas é a repercussão nos pais e nas famílias. Se não há escola, alguém tem de ficar com as crianças, sobretudo as mais pequenas, em casa, durante o dia. Se for o pai ou a mãe, é uma baixa no local de trabalho. Se forem os avós, é pior a emenda que o soneto, pois, aí sim, estamos a aumentar o risco para alguém que pertence a um grupo de risco, pelo factor da idade. Mas também tem consequências nocivas para a própria criança, porque confiná-la em casa tem tão graves ou ainda maiores consequências para a sua saúde mental, do que confinar um adulto. Prejudica a sua aprendizagem, porque o ensino à distância não permite explorar da mesma forma as matérias que são ensinadas, nem acompanhar de forma tão próxima as dúvidas e as dificuldades de cada aluno. E contribui para agravar as desigualdades, já que oestatuto socioeconómico pode ditar o acesso a um computador, à internet, a aulas de apoio, enfim, retira à escola a sua funçãode promotora da igualdade deoportunidades.
Então, se o custo social de encerrar uma escola apenas permite um ganho marginal em termos desaúde, a decisão, desde o início deste ano lectivo, foi de não encerrar escolas, a não ser como medida extrema e em caso de extrema necessidade.
Mas também temos de ter noção de que não se fazem milagres. Os planos de contingência e todas as medidas recomendadas pela Direcção-Geral da Saúde reduzem o risco, não o eliminam. Portanto, achar que vamos mandar os filhos para aescola eeles vêm de lá sem Covid-19 é uma ilusão. Da mesma forma que é uma ilusão achar que nós vamos trabalhar e vimos de lá sem Covid-19, ou que vamos fazer qualquer outra actividade da nossa vida diária eestamos isentos de apanhar Covid-19.
Porém, sabemos — e isso é um facto indesmentível, não é só uma opinião — que não tem sido nas escolas que tem ocorrido a maioria dos contágios. Portanto, dentro da insegurança, aescola é dos sítios mais seguros onde se pode estar.
E é por isto que as escolas foram a última coisa a encerrar e são a primeira a reabrir: porque faz muito pior à sociedade fechar as escolas, do que fechar os cafés, ou os restaurantes, ou os cabeleireiros, ou as lojas; e porque há muito menos risco de contágio dentro das escolas do que fora delas. Portanto, se é preciso sacrificar alguma coisa em prol da saúde, que seja tudo menos as escolas.
Repare-se até que, de acordo com o plano de desconfinamento anunciado pelo Governo [ver fonte], as primeiras coisas a reabrir são as que permitem uma mente sã em corpo são: escolas, espaços culturais, ginásios, etc.; só depois vêm as demais actividades económicas. A lógica é sempre esta: primeiro o essencial, depois o acessório.
Se não quisermos uma quarta vaga, é também esta a máxima que temos de continuar a aplicar na nossa vida: fazer o essencial com cuidado, adiar o acessório e ter a sabedoria de distinguir o primeiro do segundo.
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40.º episódio de «Perspectivas em saúde», na Sinal TV [visitar]
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Que sequelas pode deixar a Covid-19?
Uma sequela é uma lesão, ou uma alteração do funcionamento dum órgão, que permanece em resultado duma doença, após o doente ter recuperado.
Dado que a Covid-19 ainda leva pouco mais dum ano entre nós, saber que sequelas pode deixar nas pessoas que estiveram doentes é ainda prematuro. Mas vamos falar do que já se sabe, ou se suspeita, nesta altura do campeonato.
Os efeitos a longo prazo (ou seja, que podem surgir ou perdurar meses após a doença) mais frequentes são fadiga, falta de ar, tosse, dores articulares e dores no peito [ver fonte].
Para além destes, podem também ocorrer, embora com menos frequência, dificuldades de raciocínio ou concentração, depressão, dores musculares, dores de cabeça, febre intermitente e palpitações (o coração a bater muito) [ver fonte].
Depois, há situações mais graves, que têm sido identificadas, mas parecem ser muito raras. São elas inflamação do músculo cardíaco, alterações do funcionamento dos pulmões, lesões dos rins, manchas vermelhas na pele e perda de cabelo, alterações do olfacto e do paladar, problemas a dormir, diminuição da memória, ansiedade e alterações do humor [ver fonte].
É de notar que estas sequelas podem permanecer mesmo nos casos de doença moderada [ver fonte] e são mais frequentes em pessoas hipertensas, obesas ou com doença mental [ver fonte].
Quanto tempo podem durar estas complicações? Não sabemos. Mas sabemos que este coronavírus se chama SARS-CoV-2, porque já existiu um SARS-CoV-1; e sabemos que as pessoas que tiveram a doença causada pelo SARS-CoV-1, em 2003, mantinham alterações do funcionamento dos pulmões e capacidade para fazer exercício durante, pelo menos, dois anos [ver fonte]; e quase metade ainda se queixava de fadiga crónica quatro anos depois. Se o SARS-CoV-2 for pelo mesmo caminho do 1, então ainda haverá algumas pessoas com sequelas de Covid-19 em 2025.
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39.º episódio de «Perspectivas em saúde», na Sinal TV [visitar]
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A pergunta de hoje é a seguinte: uma pessoa que tenha tido Covid-19 pode ser vacinada?
A resposta é curta: sim.
Podia ficar por aqui, mas vamos aproveitar para esmiuçar um bocadinho mais quem pode e quem não pode ser vacinado.
A Covid-19 pode conferir alguma imunidade à sua recorrência. Porém, ainda não sabemos ao certo quanto tempo dura essa imunidade, após recuperar. Os estudos existentes apontam no sentido de que essa imunidade dure, pelo menos, 90 dias [ver fonte]. Mas o risco de poder vir a ficar novamente doente e poder ter uma forma grave da doença e até morrer é maior do que o benefício da imunidade conferida pela doença. Portanto, tomar a vacina é uma forma mais segura de manter a imunidade, após ter tido Covid-19, do que contar com os anticorpos naturalmente produzidos durante a doença. A vacinação cria uma resposta imunitária mais previsível, que foi estudada em condições controladas, no laboratório, e sem o inconveniente de ficar doente!
Contudo, pode fazer sentido esperar. Dado que a quantidade de vacinas disponível é reduzida, é preferível usá-las para vacinar quem nunca esteve infectado e, portanto, não tem qualquer imunidade contra a Covid-19, do que estar a gastá-las a reforçar a imunidade de quem já esteve doente, por pouca que seja, [ver fonte], pois pouco é melhor do que nada. A excepção a esta regra são os lares de idosos e outras instituições que acolhem pessoas, dado que, do ponto de vista de gestão da quantidade de vacinas a transportar e da disponibilidade dos enfermeiros para as administrar, pode fazer mais sentido vacinar toda a gente duma só vez, mesmo os que já tiveram Covid-19 [ver fonte].
No caso de pessoas que tenham sido tratadas com anticorpos monoclonais ou plasma de doentes convalescentes, estas devem esperar noventa dias, antes de tomarem a vacina.
E quem ainda tem Covid-19, pode ser vacinado, ou é melhor esperar? Bom, tendo em conta que, se está com Covid-19, deve ficar em isolamento em casa, então não pode sair para ir tomar a vacina…
Quanto às grávidas, não há quaisquer dados que sugiram actualmente que a vacinação contra a Covid-19 cause qualquer problema na gravidez, pelo que não está contra-indicada [ver fonte]. Contudo, o conhecimento nesta área em concreto ainda é escasso.
De igual forma, os casais a tentar engravidar actualmente, ou que planeiam fazê-lo no futuro, também podem tomar a vacina; não há qualquer dado que sugira a infertilidade como efeito secundário de qualquer vacina, incluindo a da Covid-19 [ver fonte].
Falta falar sobre pessoas com doenças crónicas, do sistema imunitário e reacções alérgicas. Em relação a pessoas com a imunidade enfraquecida, como é o caso das pessoas com infecção pelo VIH, mas não só, o seu risco de ter Covid-19 e formas graves da dita é maior do que no resto da população. Portanto, a vacina ajuda-os a estar mais protegidos. Contudo, ainda não existem dados relativamente à segurança da vacina especificamente neste grupo de pessoas. Além disso, é possível que a própria resposta do sistema imunitário seja menos eficaz do que no resto da população [ver fonte].
No caso das pessoas com doenças auto-imunes, o problema é o mesmo: não existem dados relativos à segurança das vacinas neste grupo específico [ver fonte]. No caso específico da síndrome de Guillain-Barré, uma doença auto-imune do sistema nervoso que pode surgir após a administração duma vacina [ver mais], não houve qualquer caso reportado nos estudos das vacinas contra a Covid-19 [ver fonte].
Houve notícias de que a vacina da Pfizer provocava paralisia de Bell [ver fonte], que consiste no enfraquecimento repentino ou paralisia dos músculos dum lado da face [ver mais]. Porém, uma análise rigorosa dos dados dos estudos demonstrou que estes casos não foram mais frequentes do que aquilo que seria de esperar na população geral [ver fonte], pelo que é simplesmente algo que acontece: tal como uma pessoa pode ficar doente, uma pessoa vacinada também pode ficar doente, sem que a doença seja causada pela vacina.
Falta-nos falar das pessoas com história de reacções alérgicas a vacinas ou aos seus ingredientes. Essas pessoas podem ser vacinadas, devem é sê-lo num hospital, para ficarem em vigilância e se poder actuar rapidamente, no caso de desenvolverem uma reacção alérgica à vacina da Covid-19.
Ainda temos muito que aprender em geral, tanto sobre a imunidade adquirida após a doença, como sobre a imunidade adquirida através da vacinação. Por exemplo, ainda não sabemos quanto tempo dura a imunidade conferida pela vacina. Mas, à medida que vá havendo mais conhecimento, as recomendações irão sendo adaptadas e o público irá sendo informado.
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38.º episódio de «Perspectivas em saúde», na Sinal TV [visitar]
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Há quase um ano, quando a pandemia de Covid-19 chegou a Portugal, a Direcção-Geral da Saúde dizia que não era preciso o cidadão comum usar máscara, que bastavam as demais medidas gerais, tais como distanciamento e lavagem das mãos. Apenas estava recomendado o uso de máscaras cirúrgicas ou respiradores para profissionais de saúde, consoante o tipo de trabalho que estivessem a fazer.
Entretanto, no início do mês de Abril, a mesma DGS abriu a possibilidade de outras pessoas, além dos profissionais de saúde, usarem máscaras cirúrgicas fora dos serviços de saúde [ver fonte] e, duas semanas depois, emitiu recomendações sobe o uso de máscaras comunitárias, de pano, por qualquer pessoa [ver fonte]. Mais tarde, o uso de máscara tornou-se obrigatório, como parte do plano de desconfinamento, em situações específicas, tais como nos locais com atendimento ao público, nos transportes colectivos e nas escolas [ver fonte], e veio inclusivamente a ser alargada a obrigatoriedade à circulação na via pública, desde que seja impossível manter o distanciamento físico recomendado [ver fonte]. Agora, alguns países europeus estabelecem um novo patamar, banindo as máscaras comunitárias [ver fonte]. Na Alemanha, em França e na Áustria, só de pode usar máscara cirúrgica ou respirador.
Justifica-se uma tal medida também em Portugal? Vamos por partes!
Primeiro: as máscaras são realmente úteis ou não? É preciso lembrar que a DGS dizia que não, inicialmente, e depois mudou de ideias. Andou a enganar-nos antes, ou anda a enganar-nos agora? Nem uma coisa, nem outra.
Em Março do ano passado, não havia máscaras para todos, pelo que era preferível deixá-las para quem realmente precisa, em vez de as açambarcar quem podem passar sem elas. Quem realmente precisa são profissionais de saúde; pessoas com sintomas de infecção respiratória, para não passarem aos outros (mas isto deveria ser uma precaução em todas as épocas de gripe e não só agora que há Covid-19); e doentes: hemodialisados, doentes oncológicos, imunodeficientes, doentes a fazer medicamentos biológicos, etc. Por outro lado, com a máscara, uma pessoa sente-se segura e esquece-se de todas as outras precauções, que são tão ou mais eficazes. Mas já vou falar um pouco mais disto. Entretanto, para concluir a minha ideia, a máscara requer cuidados especiais a pôr, (sobretudo) a tirar e mesmo saber quando trocar; e a verdade é que, se até os profissionais de saúde cometem erros às vezes, imaginemos agora a população geral! Arriscávamo-nos a que fosse pior a emenda do que o soneto e a acabar tudo contagiado pela própria máscara, ao usá-la mal!
Agora, sobre a questão da segurança e do cumprimento das outras medidas preventivas. Os estudos indicam que as máscaras cirúrgicas filtram cerca de 70% das partículas. Portanto, há coisas que conseguem passar. Outros tipos de máscaras, como os respiradores FFP2, filtram até 99%. Mas são mais caros e não há para todos; portanto, reservam-se para os profissionais de saúde em maior risco.
Ficamos então pelas cirúrgicas. Temos mais capacidade de produção de máscaras cirúrgicas do que de respiradores, mas, mesmo assim, não chega para a população toda. Então, reservamo-las para os grupos prioritários que eu já referi. Se sobrarem, não há mal em outras pessoas usarem também. Mas, por favor, lembre-se, de cada vez que usar uma máscara cirúrgica, de que ela pode estar a fazer falta a alguém que precise mais dela.
Além disso, as máscaras cirúrgicas são descartáveis e feitas de plástico [ver fonte]; e tudo o que é descartável e feito de plástico tem um impacto ambiental brutal. De pouco ou nada serve sobreviver a uma pandemia, se for para acabar dizimado pelas alterações climáticas ou esfomeado por causa da perda de biodiversidade e terreno arável. Portanto, devem ser usadas com parcimónia e só se o risco se justificar.
Em termos de risco, as máscaras caseiras, feitas de pano, filtram 30–40% das partículas, segundo os estudos. Por comparação, lavar as mãos reduz a probabilidade de contágio em 70%, tossir ou espirrar para o braço outros 70% e o distanciamento 60% [ver fonte]. Portanto, estas medidas gerais são tão eficazes como as máscaras cirúrgicas e mais eficazes do que as máscaras de pano e devem continuar a ser o esteio da prevenção da transmisssão da Covid-19.
Daí que a conclusão a tirar seja esta: se for uma das pessoas que referi antes (doente com COVID-19 ou seu cuidador, ou outro doente com a imunidade em baixo), use máscara cirúrgica. Se não for uma destas pessoas, deixe a máscara cirúrgica para quem dela mais precisa e use uma máscara de pano. O respirador FFP2 é, em qualquer caso, um exagero, se não for profissional de saúde. Aliás, estas continuam a ser as recomendações da Direcção-Geral da saúde — o que não quer dizer que não possam mudar, à medida que se aprende mais sobre o coronavírus, as suas formas de transmissão e o seu risco de transmissão.
Mas, com ou sem máscara, não se esqueça de que lavar as mãos, não se esqueça de tossir ou espirrar para o braço e não se esqueça de cumprir o distanciamento social, porque isto protege tanto ou mais e é absolutamente fundamental não descurar.
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37.º episódio de «Perspectivas em saúde», na Sinal TV [visitar]
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Dezassete dias depois de eu ter explicado os motivos pelos quais o encerramento das escolas não era uma necessidade imediata no controlo da transmissão da Covid-19 [visitar], o Governo decidiu encerrá-las por quinze dias. Apenas se aceita esta medida, porque o Governo clarificou que os dias perdidos agora serão compensados nas férias, não havendo, portanto, uma perda líquida de tempo de ensino eaprendizagem [ver fonte].
Isso é absolutamente fundamental, pois, caso contrário, estaríamos perante uma medida com custos sociais enormes e um ganho apenas marginal em termos de saúde, ou seja, uma análise custo-benefício extremamente negativa [ver fonte]. Assim, conseguimos esse ganho, por pequeno que seja, sem comprometer o futuro dos alunos. Menos mal.
Quando asescolas reabrirem, as palavras-chave continuarão a ser as mesmas: lavagem das mãos, máscara e distanciamento. Aliás, estas são as palavras-chave de todo o combate à pandemia de Covid-19, mais atédo que asvacinas, e vão continuar a ser durante mais algum tempo.
Mas como é que se consegue manter o distanciamento dentro duma sala de aula e como é que se faz o arejamento ea renovação doar, com temperaturas tão baixas? Não sei. E não sei porquê? Porque isso varia de escola para escola e qualquer recomendação geral que eu possa fazer aqui vai inevitavelmente fazer sentido nalguns sítios, mas noutros vai ser tão obtusa como a compota no vão da escada [visitar]…
É por isso que cada escola elabora o seu plano de contingência. Ninguém melhor do que asescolas para perceber de que forma podem adaptar as recomendações gerais de prevenção da transmissão da Covid-19 à sua realidade particular. Esse plano de contingência é elaborado pela escola, mas é revisto pela Unidade de Saúde Pública, de modo a verificar se as medidas propostas vão efectivamente ao encontro das necessidades de prevenção, e são feitas sugestões de melhoria. Além disso, o plano vai sendo revisto ao longo do tempo, se são identificadas falhas, e o seu cumprimento também é verificado, através de visitas às escolas.
Mas também temos de ter noção de que não se fazem milagres. Os planos de contingência e todas as medidas recomendadas pela Direcção-Geral da Saúde reduzem o risco, não o eliminam. Portanto, achar que vamos mandar os filhos para aescola eeles vêm de lá sem Covid-19 é uma ilusão. Da mesma forma que é uma ilusão achar que nós vamos trabalhar e vimos de lá sem Covid-19, ou que vamos fazer qualquer outra actividade da nossa vida diária eestamos isentos de apanhar Covid-19.
Porém, sabemos — e isso é um facto indesmentível, não é só uma opinião — que não tem sido nas escolas que tem ocorrido a maioria dos contágios. Portanto, dentro da insegurança, aescola é dos sítios mais seguros onde se pode estar.
Qualquer pessoa pode ter Covid-19. Mas háacções que aumentam a probabilidade disso acontecer e háacções que a reduzem. Cabe a cada um, seja na escola, seja fora dela, conhecer as recomendações gerais eencontrar a melhor forma de as cumprir no seu dia-a-dia, sabendo que isto não é o ideal, que ninguém disse que ia ser fácil e que, mesmo cumprindo tudo à risca, ninguém está isento de, mesmo assim, ficar doente.
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36.º episódio de «Perspectivas em saúde», na Sinal TV [visitar]
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Eu jáaqui temperei, em Novembro passado, asexpectativas relativamente ao que avacinacontraa Covid-19 pode e não pode fazer por nós. Disse eu, então, que iria demorar meses, após termos vacina, até podermos retomar a vida normal pré-pandemia [visitar].
A realidade veio confirmar as minhas previsões: já vamos com quase um mês e meio de vacinação em Portugal e continuamos confinados. Aliás, estamos hoje mais confinados do que estávamos, quando começámos a campanha de vacinação.
Aos obstáculos que eu elenquei na altura, junta-se mais um: o aparecimento de novasvariantesdocoronavírus. Tal como eu disse, na altura, a rápida mutação do vírus causador da sida é um dos motivos pelos quais não temos — e possivelmente nunca viremos a ter — uma vacinacontraessa doença. No caso docoronavírus, a velocidade a que ocorrem mutações é mais baixa e isso facilita a vida às vacinas.
Porém, «mais baixa» não significa inexistente: o coronavírus também sofre mutações e isso faz com que surjam novasvariantes, como ado Reino Unido, ado Brasil ea de África do Sul, de que tanto se tem falado. E o que acontece às vacinas, perante o aparecimento destas novasvariantes?
A resposta é: depende. Vamos falar um pouco de vacinas e de imunidade, para percebermos as implicações doaparecimento de novasvariantes.
O sistema imunitário é uma espécie de polícia do nosso organismo. Os glóbulos brancos circulam no nosso sangue e, quando detectam uma ameaça, activam-se e destroem-na. Essa ameaça é identificada através duma coisa chamada antigénio, que é, no fundo, um pedaço doagente (seja um vírus, seja uma bactéria, seja mesmo uma célula cancerígena da própria pessoa); e o sistema imunitário detecta esse antigénio como estranho. Quando um antigénio é detectado pela primeira vez, dá-se aquilo que se chama resposta imunitária primária, que é mais fraca, mas cria-se memória imunitária. Essa memória imunitária é como que o sistema imunitário lembrar-se daquele agente e guardar as ferramentas para o destruir prontas a usar. Assim, na vez seguinte que o sistema imunitário detecta os mesmos antigénios, dá-se a resposta imunitária secundária, que é muito mais forte e rápida e é por isso que se diz que a pessoa está imune. Perante a resposta primária, demora mais tempo aeliminar o agente infeccioso e isso leva ao desenvolvimento da doença, mas, perante a resposta secundária, o agente infeccioso já não tem tempo de fazer farinha ea pessoa nem nota que foi infectada.
O papel das vacinas é apresentar esse antigénio ao sistema imunitário, sem causar adoença, de modo que o sistema imunitário o identifique e guarde na memória e, assim, se ocorrer a infecção, passamos directamente à resposta imunitária secundária e não ficamos doentes.
Perceber isto doantigénio é muito importante, para se perceber o que acontece à eficácia das vacinas perante novasvariantes. Como eu disse, o sistema imunitário é a polícia do nosso organismo. Se o coronavírus for um carro, avacina pode ser vista como um relatório com a marca, o modelo ea cor do carro. Ou seja, avacina diz ao sistema imunitário: cuidado com um Opel Corsa branco. Se o coronavírus mudar de pneus, ou seja, aparecer uma nova variante, isso não altera a marca, nem o modelo, nem a cor do carro e o sistema imunitário continua a ser capaz de o detectar. Avacina não perde eficácia. Porém, se a variante pintar o carro de vermelho, então o sistema imunitário já não o reconhece eavacina perde eficácia.
Claro que, na realidade, isto é um pouco mais complexo do que o exemplo que acabei de dar, mas creio que dá para perceber por que asvariantesdocoronavírus significam coisas diferentes para vacinas diferentes: tudo depende doantigénio introduzido em cada vacinaedo local onde a nova variante difere e da dimensão dessa diferença. Daí que, das notícias que se conhecem, asvacinas existentes sejam globalmente eficazes contraa variante inglesa e globalmente menos eficazes contraa variante sul-africana.
Apenas o futuro dirá quem ganharáesta corrida: nós ou o coronavírus. Mas uma coisa é certa: mesmo com vacinas, lavar as mãos, usar máscara e manter o distanciamento continuam a ser as melhores armas que temos contra o coronavírus.
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35.º episódio de «Perspectivas em saúde», na Sinal TV [visitar]
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Isolamento e quarentena: vamos lá ver se clarificamos exactamente quem tem de fazer o quê. Isolamento é para os doentes e quarentena — ou isolamento profilático — é para os contactos dos doentes.
No caso específico da Covid-19, há um cruzamento entre a gestão clínica da doença e a gestão dos riscos para a saúde pública de estar doente. A maioria dos doentes que não necessitam de hospitalização, sobretudo os assintomáticos, também não precisam doutros cuidados médicos que justifiquem ficar de baixa em casa; o motivo por que ficam tem que ver com prevenir a possibilidade de, enquanto estão doentes, contagiarem outras pessoas. Então, desde que estejam assintomáticos, ou, tendo desenvolvido sintomas, já tenham recuperado há pelo menos três dias, podem ter alta ao fim de dez dias. Porquê dez dias? Porque, ao fim de dez dias, o tal risco de contagiarem outras pessoas é já muito baixo. No caso das pessoas hospitalizadas, o risco de contágio é maior e, por isso, só ao fim de vinte dias podem ter alta. A regra dos vinte dias também se aplica a profissionais de saúde e a profissionais de lares de idosos, se ao fim dos dez dias ainda tiverem um teste positivo. Porquê? Porque o risco, ao fim de dez dias, é baixo, mas, ao fim de vinte dias, ainda é mais baixo e, como estamos a falar de grupos de risco (pessoas doentes num caso e idosos no outro), todo o cuidado é pouco.
Passemos então aos contactos. A lógica aqui é totalmente diferente: não é quanto tempo aquela pessoa corre o risco de contagiar alguém, mas sim quanto tempo aquela pessoa, se tiver sido contagiada, vai demorar até ficar doente. O que nós sabemos é que podem passar duas semanas até uma pessoa desenvolver sintomas e pode passar, em média, uma semana até haver carga viral suficiente para ser detectável no teste. Por consequência, todas as pessoas com contacto de alto risco com uma pessoa doente devem ficar catorze dias em quarentena e não devem ser realizados testes de rastreio antes de passar sete dias sobre o último contacto com a pessoa doente. Muito menos devem ser realizados testes a pessoas que não estão em quarentena, pois o teste é supletivo e não substitutivo da quarentena. Aliás, nem sequer se justifica testar todas as pessoas que ficam em quarentena.
Mas isto são só meia dúzia de princípios gerais e, como tudo na vida e em particular na saúde, as exceções são abundantes. Daí que seja necessária uma avaliação caso a caso pelas autoridades de saúde, que darão as indicações específicas para cada caso particular.
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34.º episódio de «Perspectivas em saúde», na Sinal TV [visitar]
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O Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica já existia antes de haver Covid-19 e pouco mudou desde então. As regras fundamentais continuam a ser as mesmas e permitem vigiar, não só a Covid-19, mas também todas as outras doenças de notificação obrigatória — no total, 59 doenças!
Quando se diz «doenças de notificação obrigatória» o adjectivo «obrigatória» não está lá por acaso: é obrigatório, por lei, qualquer médico que diagnostique uma destas doenças proceder à sua notificação e é obrigatório também que qualquer laboratório que realize um teste para identificar uma destas doenças notifique também o resultado. Se o não fizerem, incorrem nas sanções previstas na lei.
Como eu disse, isto aplica-se a todas as doenças de notificação obrigatória, incluindo naturalmente a Covid-19, e aplica-se a todos os médicos e a todos os laboratórios, independentemente de pertencerem ao Serviço Nacional de Saúde ou serem privados.
Portanto, no caso da Covid-19, fazer um teste no hospital, no centro de saúde ou no laboratório privado não faz qualquer diferença: o delegado de saúde irá sempre tomar conhecimento do resultado.
Claro que, como em tudo, há sempre falhas no sistema e, portanto, não é de excluir que, por erro, esquecimento, incumprimento, possa haver situações em que uma doença de notificação obrigatória é diagnosticada e não é notificada. Isso prejudica gravemente o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica, porque coloca em causa a capacidade das autoridades de saúde de responder adequadamente e de aplicar as medidas necessárias para o controlo da transmissão da doença em causa.
No fundo, na sua essência, a notificação de doenças de notificação obrigatória não é diferente daquilo que se faz, em termos clínicos, quando se envia um doente a um colega especialista na doença que ele tem. Neste caso a doença tem a particularidade de ser transmissível entre pessoas, ou dos animais para as pessoas, ou do ambiente para as pessoas, e o médico especialista em identificar e quebrar essas cadeias de transmissão é o médico de saúde pública, de modo que se lhe envia o caso, chamando a isso notificação.
A obrigatoriedade, além do aspecto legal, resulta também daquilo que é a boa prática médica: é tão obrigatório notificar um caso de Covid-19, como é obrigatório, por exemplo, enviar um doente cardíaco ao cardiologista.
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33.º episódio de «Perspectivas em saúde», na Sinal TV [visitar]
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Quero começar hoje por agradecer todas as perguntas e sugestões de temas que nos têm chegado. Com talvez uma ou duas excepções, todos os episódios, até agora, responderam a uma questão colocada pelos espectadores — ou mais do que uma, quando há várias que versam o mesmo tema e faz sentido enquadrá-las no mesmo episódio.
Mas, com toda a honestidade, tenho de dizer que estava a ver que nunca mais ninguém colocava a questão que vou abordar hoje! Os números divulgados no boletim epidemiológico do Alto Tâmega e Barroso mostram um facto curioso: há muito poucas pessoas emquarentena, comparativamente ao número de doentes com Covid-19 em isolamento. Porquê?
Antes de prosseguir, permitam-me definir dois conceitos: isolamento é o período dedez dias, no mínimo, que uma pessoa com Covid-19 tem de permanecer em casa, para evitar que contagie outras pessoas; quarentena, ou isolamento profilático, é o período de catorze dias, que uma pessoa que esteve em contacto com um doente tem de ficar em casa, para ver se desenvolve sintomas e assim evitar que contagie mais alguém.
Então, por que há, segundo o boletim epidemiológico da Unidade de Saúde Pública do Alto Tâmega e Barroso, tão poucas pessoas emquarentena, relativamente ao número de doentes em isolamento? Bem, há várias razões para isso.
A primeira é simples: a angústia dos números que não batem certo [visitar]. O número de doentes em isolamento — ou seja, as pessoas que foram diagnosticadas e ainda não foram consideradas curadas, o que também se designa por fase activa dedoença — o número de pessoas em fase activa dedoençaestá levemente sobrestimado, visto que a contagem dos novos casos é relativamente fácil e rápida, mas a contagem das altas demora, às vezes, alguns dias. Ou seja, há um certo número de pessoas que já não estão doentes, mas ainda aparecem no mapa dos doentes, em vez de aparecer no mapa dos curados. É um número pequeno, mas é uma das razões que concorre para a situação que estamos a analisar. Isto prende-se com questões de registo clínico, que nem sempre é feito da forma mais adequada e leva a estes problemas no levantamento e na análise dos dados.
Por outro lado, o número de pessoas emquarentenaestá subestimado. Muitas vezes, a vontade de produzir informação esbarra em dificuldades técnicas eeste é um desses casos: as pessoas emquarentena por relação com casos ocorridos emescolas não são contabilizadas, meramente porque, até agora, ainda não foi possível conciliar a base de dados das escolas com o sistema informático que produz o boletim epidemiológico. Estamos a trabalhar para resolver o problema, mas, até lá, a realidade é esta, mesmo que não seja como devia ser.
Mas, para alémdestas duas limitações técnicas, há mais dois ou três motivos por trás dos números, que vale a pena discutir.
O primeiro é que uma parte não despicienda dos casosde Covid-19 identificados têm acontecido em lares de idosos, tal como tem sido noticiado pela comunicação social. Os lares de idosos são uma realidade particular, visto que uma grande parte dos seus residentes já vive uma certa forma de isolamento no seu dia-a-dia. Por esse motivo, os residentes de lares de idosos que ficam emquarentena quando ocorre um surto de Covid-19 no lar não são contabilizados no boletim epidemiológico.
O segundo motivo é que a Unidade de Saúde Pública do Alto Tâmega e Barroso tem sido muito mais liberal na realização de testes para Covid-19 do que outras autoridades de saúde no resto do País. Temos ido bastante além das normas da Direcção-Geral da Saúde, no que toca à realização de testes, o que é o mesmo que dizer que temos testado todas as pessoas, por mais ténue que seja a justificação para tal, enquanto uma leitura mais restritiva das normas da DGS poderia deixar muitas dessas pessoas por testar. Não quer dizer que nós estejamos certos e os outros errados, ou vice-versa, quer simplesmente dizer que as normas da DGS deixam margem de manobra para cada autoridade de saúdedecidir livremente — e nós, por cá, temos decidido a favor de testar. Mas isto tem duas implicações: aumenta o número de doentes e diminui o número decontactosemquarentena.
Vejamos como. Ao testar, muitas dessas pessoas têm um resultado positivo e, em vez de fazerem catorze dias dequarentena, fazem apenas sete e mais dez de isolamento, porque estão, afinal, doentes. Traduzindo isto por números, de forma muito simplificada, se houver cinco casos novos por dia e cada caso recuperar ao fim dedez dias, no primeiro dia há cinco casos, no segundo dez, no terceiro quinze e assim sucessivamente até que, ao nono dia, passa a haver 45 casose, daí para a frente, adoecem cinco, recuperam cinco e ficamos sempre nos 45 doentes em fase activa.
Se cada novo caso gerar dois contactosemquarentena, há dez pessoas emquarentena no primeiro dia, vinte no segundo, trinta no terceiro, cem no décimo dia, mas aí é que a coisa complica: porque as quarentenas só terminam ao fim de catorze dias, o número de pessoas emquarentena só estabiliza, nas 130, a partir do 13.º dia.
Portanto, a partir do 13.º dia, teremos uma média de cerca de 3 contactosemquarentena, por cada pessoa em fase activa dedoença.
Porém, encurtemos a quarentena para sete dias, porque testámos essas pessoas ao fim desse tempo e vieram positivas, e coloquemo-las como doentes adicionais. Se metade das pessoas que testámos tiverem um resultado positivo, o número de novos casos só continua a ser de cinco por dia nos primeiros seis dias. Ao sétimo dia, temos dez novos casos: os mesmos cinco que estávamos a ter e mais cinco dos contactos que estavam emquarentena por causa das cinco pessoas que adoeceram no primeiro dia eentretanto foram testados. E assim sucessivamente: em vez deestabilizarmos nos 45 doentes em fase activa a partir do nono dia, continuamos a crescer até ao 16.º dia e só aí estabilizamos, já não nos 45, mas nos 95 doentes em fase activa.
Por outro lado, o número de pessoas emquarentena já não atinge as 130, mas fica-se pelas 95, porque muitas das que estariam emquarentena, afinal, já contam como doentes. Et voilà, temos, já não 3 contactosemquarentena, por cada pessoa em fase activa dedoença, mas uma razão de 1:1 — e parece que não andamos a fazer nada!
É preciso não esquecer que todas as pessoas que estavam emquarentenae, entretanto, tiveram um teste positivo, não vão gerar mais pessoas emquarentena, pois o objectivo da quarentena é mesmo esse: garantir que, se alguém adoecer por ter estado em contacto com outra pessoa com Covid-19 que tenha sido previamente identificada, já não contagie mais ninguém.
Sobra a razão mais preocupante — e por isso a deixei para o fim, para perdurar na memória, em vez de se perder no meio do resto da conversa: há um atraso na identificação das pessoas doentes e, quando vamos identificar os contactos para pôr emquarentena, já estão todos também doentes. Basicamente, aquilo a que temos vindo a perceber, no âmbito dos inquéritos epidemiológicos, é que muitas pessoas com Covid-19 não têm valorizado os sintomas iniciais e são capazes de andar dois, três, quatro dias com uma tossezinha, umas dores de cabeça, sem sentir cheiro, até irem ao médico. Durante esses quatro dias, contactam com os familiares mais próximos e contagiam-nos. Entretanto, ao quarto ou quinto dia, lá vão ao médico, fazem o teste, o resultado chega no dia seguinte, é positivo e os familiares ligam todos para o SNS24, com receio, e vão fazer também o teste. Quando, um dia ou dois depois, nós telefonamos à pessoa doente, para lhe fazer o inquérito epidemiológico, descobrimos que o período de contagiosidade já começou há uma semana, que grande parte dos contactosde alto risco já fizeram teste e já tiveram um resultado positivo, já se auto-isolaram (o que é bom) e já não temos mais pessoas para pôr emquarentena, porque já está tudo doente e isolado.
E é por isso que eu deixo o apelo a que todos estejam muito atentos aos sintomas possíveis de Covid-19: se tiver tosse, febre, perda dos sentidos do cheiro ou do gosto, dores de cabeça muito fortes, dificuldade ou dor a respirar, não facilite, nem deixe andar, a ver se passa: ligue imediatamente para o SNS24 — 808 24 24 24.
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32.º episódio de «Perspectivas em saúde», na Sinal TV [visitar]
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Olá!
Existem três tiposdetestesparaaCovid-19 disponíveis: moleculares, deantigénio e imunológicos. Hoje, vamos ver as diferençasentre cada um e que uso lhes podemos dar.
O teste molecular é também conhecido por PCR, pois é feito com recurso a uma técnica com esse nome — apolymerase chain reaction, ou reacção em cadeia da polimérase. Na verdade, a PCR é só um dos passos do teste, mas creio que seria demasiado prolixo explicar detalhadamente em que consistem todos os passos, portanto vamos só ficar com o essencial. O coronavírus, à semelhançade todos os seres vivos, contém material genético, o qual codifica a informação necessária a produzir as proteínas que o compõem. O teste molecular, o que faz é identificar a presença (ou não) desse material genético na amostra retirada do nariz da pessoa a testar. Porquê o nariz? Porque o seu interior é uma das zonas onde o vírus se acumula em maior quantidade, quando estamos infectados. Daí que se use uma zaragatoa, que é uma espécie de cotonete comprida, para retirar um bocadinho de muco através do nariz e depois se procure o material genético do vírus através do teste molecular. Se vier positivo, quer dizer que há material genético do vírus e, onde há material genético, há vírus…
O segundo tipo de teste é o teste deantigénio. Antigénio é um pedaço de vírus que é reconhecido como estranho pelo corpo humano e desencadeia a produção deanticorpos. É possível replicar essa reacção num laboratório e conseguir, assim, identificar a presença, já não do material genético, mas do próprio vírus. Para isso, é preciso colher uma amostra, também com uma zaragatoa e também através do nariz da pessoa que se vai testar. A razão é a mesma: se vamos procurar pedaços do vírus, convém procurá-los no sítio onde o vírus se acumula mais…
Antes de passarmos aos testes imunológicos, que são diferentes, vamos comparar estes dois. Em princípio, poder-se-ia pensar que procurar pedaços do vírus propriamente dito seria mais fidedigno do que procurar o seu material genético, mas não. Ostestesdeantigénio são menos sensíveis do que ostestes moleculares, de modo que um resultado positivo, em princípio, pode ser aceite como tal, mas um resultado negativo pode bem ser um falso negativo e não dispensa a confirmação por teste molecular. A principal vantagem dos testesdeantigénio é serem mais rápidos e baratos do que ostestes moleculares, permitindo por isso uma resposta mais rápida e em larga escala.
Passemos então aos testes imunológicos. Ostestes moleculares e deantigénio dão o mesmo tipo de informação, cada um com as suas vantagens e limitações: se o vírus está ou não presente no corpo da pessoa testada. Jáostestes imunológicos, também designados serológicos, porque implicam testar uma amostra de sangue, por seu lado, permitem saber se a pessoa testada tem anticorpos contra o coronavírus. Para ter anticorpos, tem de ter sido exposta ao vírus e infectada, mas tem também de ter tido tempo dedesenvolver uma resposta do sistema imunitário. Por isso, ostestes imunológicos não nos permitem saber se a pessoa está infectada, porque pode estar no início da infecção e ainda não ter anticorpos detectáveis, ou pode já estar curada e ter ficado com anticorpos em circulação, que depois vão permitir garantir a imunidade futura à doença.
Qual é a utilidade prática dos testes imunológicos, então? Permitem identificar quem foi infectado, mesmo que não tenha desenvolvido sintomas e já tenha eliminado o vírus, pelo que são extremamente importantes para termos um panorama geral da propagação da infecção em Portugal, sem ficarmos limitados à identificação daqueles que desenvolveram sintomas. E são também importantes, paraavaliar, numa primeira fase, a eficácia das vacinas em desenvolvimento. Uma vacina, para ser eficaz, tem de, em primeiro lugar, gerar a produção deanticorpos, que são depois detectados pelos testes imunológicos. Sem testes imunológicos, o processo dedesenvolvimento de vacinas contra aCovid-19 teria sido muito mais lento, complicado e arriscado.
Resumindo e simplificando: se precisamos dedetectar um grande número de casos de forma rápida, o ideal é um teste deantigénio; se precisamos de ter a certeza no diagnóstico, o ideal é um teste molecular; e, se precisamos de identificar quem já teve contacto com o vírus, o ideal é um teste imunológico.
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