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Bom Filho

Bom Filho

14 de Abril, 2021

Para que serve a Saúde Pública?

44.º episódio de «Perspectivas em saúde», na Sinal TV [visitar]

Veja este artigo em vídeo:

Ou leia o texto:

Olá!

O tema do último episódio [visitar] foi «o que é e o que faz a Saúde Pública». Depois de procurar a definição da especialidade, descrevi as funções do especialista — do médico de saúde pública, portanto —; e, nos episódios anteriores, tenho vindo alegremente a falar de questões de saúde, pública e não só. Esta semana, achei que valia a pena questionar o motivo; ou seja, por que falamos de saúde, por que é isso parte das atribuições da Saúde Pública, e por que faz sentido existir Saúde Pública, de todo.

Ajudou a esse rebate de consciência uma conversa que tive, em que me disseram qualquer coisa como:

— A Medicina já descobriu praticamente tudo; já há muito pouco para avançar em termos da capacidade de curar.

Ora, nada mais falso! Em primeiro lugar, porque, obviamente, há muito mais para descobrir do que o que já sabemos (seja na área médica, seja em todas as outras áreas científicas). Em segundo lugar, porque a intenção curativa da Medicina é um paradigma ultrapassado. Mas, fundamentalmente, porque os grandes avanços da Medicina de que gostamos de nos orgulhar foram, na realidade, obtidos à custa, principalmente, da Saúde Pública.

Ora, a Saúde Pública, como vimos [visitar], tem várias vertentes; e este espaço faz parte duma delas. As minhas «perspectivas em saúde» têm dois objectivos fundamentais: por um lado, explicar os meandros dos cuidados de saúde; por outro lado, educar para a saúde. Ambos os objectivos cabem dentro do âmbito da Saúde Pública; e creio que são ambos importantes. Conhecer o funcionamento do sistema de saúde português, saber como é financiado o Serviço Nacional de Saúde, perceber a diferença entre cuidados primários e secundários, tomar consciência da influência da União Europeia (e doutras instituições internacionais) na nossa saúde — tudo isto contribui para capacitar cada pessoa para tomar decisões, quer como doente, quer como cidadão; decisões essas que podem afectar não só a sua própria saúde, mas também a saúde dos restantes membros da nossa sociedade. Já a educação para a saúde e a promoção da literacia para a saúde (que podem, ou não, ser a mesma coisa) têm um papel a desempenhar na consciencialização da importância da saúde como instrumento para uma vida e uma cidadania plenas e de que forma ela pode ser promovida.

Mas acredito que não vale a pena insistir nem numa coisa, nem na outra — isto é, não vale a pena nem falar de política de saúde nem ensinar medidas preventivas disto ou daquilo — se não estiver bem claro por que é importante falarmos disso.

Comecemos, então, pela prevenção. Lá diz o povo que mais vale prevenir que remediar… Alguma razão deve haver para o povo dizer isto, não deve? Um caro amigo meu intuiu a resposta de forma espantosa certa vez, quando disse:

A Medicina salva vidas? É certo! Mas, o que seria da Medicina se não houvesse, por exemplo, saneamento básico?

O saneamento básico é, talvez, uma das primeiras e mais importantes medidas de saúde pública postas em prática no mundo, por permitir isolar os desperdícios e os dejectos da água para consumo humano, interrompendo, assim, o ciclo de propagação de doenças como a cólera, a febre tifóide, a hepatite e a poliomielite. E — não tenhamos dúvidas — o saneamento básico do senhor Bazalgette [ver mais] fez mais pela saúde dos londrinos, no século XIX, do que todos os hospitais da cidade juntos!

Quando olhamos para a percentagem da população dum dado país que tem acesso a saneamento básico e a comparamos com a esperança de vida nesse país, encontramos uma relação positiva: em princípio, quanto mais gente tem acesso a saneamento, maior a esperança de vida [ver fonte]. Nos extremos dessa linha, encontram-se a Serra Leoa e o Japão: na Serra Leoa, ao nascer, a esperança de vida é de apenas 45 anos e somente 13% da população tem acesso a saneamento básico; no Japão, a esperança de vida, a mais elevada no mundo, é de 83 anos e toda a população tem acesso a saneamento básico. Um estudo [ver fonte] indica que aumentar em 1% a população coberta por saneamento básico, num dado país, faz aumentar a esperança de vida ao nascer, nesse país, em dezoito dias. Dito assim, pode não parecer grande coisa. Mas voltaremos a este tema, para perceber por que é, de facto, uma grande coisa!

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